
No que depender da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade), os carros a diesel já estariam sendo vendidos no Brasil há algum tempo. A entidade defende que o combustível é mais eficiente, econômico e que já quebrou muitos preconceitos que o óleo sofria nos anos 70, quando ele foi proibido de abastecer veículos de passeio.
Foi em 1976, quando o Brasil tinha de importar 78% de sua demanda por petróleo, reduzindo a oferta do diesel. Fora os agravantes das duas crises sofridas no Oriente Médio em 1973 e 1979, aumentando drasticamente o preço do produto. Então, para não afetar o abastecimento de veículos de carga, a oferta foi limitada. “O Brasil mudou, a realidade mudou, mas a lei continua a existir”, protestou Rubens Avanzini, coordenador da Comissão Técnica da Tecnologia Diesel da SAE Brasil.
A realidade a que Avanzini se refere é a europeia, onde os carros de passeio a diesel são bem vendidos. Segundo a entidade, o combustível hoje tem menor consumo, garante durabilidade do motor 30% maior, torque em baixas rotações e níveis de ruído e vibração comparáveis aos dos motores a gasolina.
Para tirar a prova dos nove, levamos para a pista um Peugeot 207 Passion 2.0 HDi Diesel. Ele tem 90 cv de potência a 4.000 rpm e 20,9 kgfm de torque a 1.900 rpm. Para comparar, dirigimos também um modelo igual, mas com motor flex de 1,6 litro 16V vendido no Brasil com 113 cv de potência a 5.600 rpm e 15.5 kgfm de torque a 4.000 giros com álcool no tanque.
Quando se fala em desempenho, realmente o diesel entrega mais. O motor sai manso até o pico de torque, pouco abaixo dos 2.000 rpm. É aí que o turbo entra em ação e o carro dispara. Por outro lado, há ainda muito a evoluir no quesito conforto. O ruído do motor ainda é alto e a aspereza e as vibrações incomodam. Não é difícil lembrar de uma picape enquanto estamos ao volante do pacato sedã.
Se quiser justificar o desconforto, opte por agradar o bolso. Em relação ao diesel, o custo para rodar 100 km é 27,7% maior com GNV, enquanto com gasolina este número percentual sobe para 106%. Com álcool, a diferença vai a 139,7%. A autonomia do diesel é outro ponto favorável, sendo até 140% maior do que com álcool.
Nem tudo são flores
Uma preocupação é a ambiental. O diesel produzido no Brasil possui excesso de enxofre, assim como a gasolina nacional. A meta é de uma redução até 2014, mas o combustível como é hoje ainda polui e exige uma manutenção mais minuciosa dos motores. Até os propulsores montados nos carros nacionais para exportação não aceitariam o diesel brasileiro.
A Fiat, por exemplo, fabrica Punto e Strada que recebem um motor a diesel e são vendidos para outros países da América do Sul. Os propulsores são importados da Itália e precisariam passar por uma série de adaptações para poderem rodar no Brasil “Isso demandaria um trabalho de um ano e meio de desenvolvimento e não temos nenhum plano para isso”, explicou Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da fabricante.
Ferreira contesta a utilidade dos motores movidos a óleo no Brasil. “A vantagem é o torque em baixa, ideal para utilitários e não para veículos de passeio. Além disso, aqui no Brasil temos o etanol, que é a alternativa ao petróleo que todo mundo procura”, disse.
Para a Fiat, a liberação de carros a diesel no Brasil também se complicaria nos custos, já que os motores atuais são importados e fabricá-los aqui exigiria um grande investimento. Segundo o assessor da marca, motor e câmbio juntos são responsáveis por 30% do valor final de um automóvel.
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